Destino
Sorrindo das forças dos ares
Sentimentos ferozes que descobri
Atrás das torpezas dos mares
Dos ventos velozes que reconheci
Ainda que o sol revoltasse
A lua me guiava tão longe dali
Ainda que o som me banhasse
A rua me afastava das dores daqui
Ainda que no sono profundo
Acordava o vento tão menino
Talvez cruzar esse meu mundo
Fosse maior que o gesto divino
Olhava por dentro das eras
Eu via o sol nascendo latino
Ascensão das minhas primaveras
Na pureza de um deus, o Destino
Seguir as flores contra o vento
Fortes braçadas num mar qualquer
Para fora da tormenta ou tormento
Passar pelas nuvens que não se quer
Não chorar por quem nem nasceu
Perdoar por quem não me quiser
Não sou Altas nem serei Prometeu
Para carregar a culpa de quem vier
Ainda que os planos acabem
E minha falta repique um sino
Mesmo que as mãos se calem
E eu desista de um sonho fino
Se houver sol ou lua ou chão
Eu sigo cantando até o desatino
A queda da minha escuridão
Pela força de um deus, o Destino
A arte de curar-se com o medo
E seguir por um novo caminho
Esquecer tudo de gosto azedo
E enfrentar mais um moinho
Que toda a terra desapareça
Para ser mais que o meu ninho
Há canções na minha cabeça
E assim não faço a viagem sozinho
Ainda que eu siga perdido
Sigo o céu de cores que não imagino
Até achar o reino prometido
Surgir do mar num coro de violino
Lá depois da estrada descolorida
Não importa se aprendo ou ensino
É o último ato da peça da vida
Nos olhos de um deus, o Destino