O Palhaço
De um sorriso estonteante
Meu rosto pálido e marcado
Desfigurado em meu semblante
Um sorriso meio assombrado
De quem vive para ser engraçado
Mesmo em tempo sombrio
O meu sorriso é minha sina
Luto para não deixá-lo frio
Que não transpasse a alma fina
A imagem de tristeza cristalina
Para esquecer a minha dor
Entrego até a alma deserta
E só se tem algum valor
Ao cauterizar a ferida aberta
Dedicando a vida à risada certa
Vou carregando em toda rua
Uma gargalhada orgulhosa
Não suporiam que na lua
Escondi minha parte valiosa
Sentimentos frágeis como rosa
Sei fazer rir por natureza
E isso é tudo o que importa
Se me olharem com clareza
Verão meu sorriso uma porta
Fechado a quem entra, o riso se exporta
O Tempo me levará ao seu juízo
O sopro que me leva além do dia
Eu darei aos céus um último riso
Um conto que ninguém contaria
Mas até a Morte, então, riria