Despedida

Quando a guerra não foi mais que um simples jogo

quando o medo fez mais cedo um outro escuro

e o futuro se fez logo ali, dobrando

eu vi, amiga: era tarde.

Quando o mundo foi além do meu quintal

quando a vida foi jornal e não história

e a memória fez a contramão do dia

eu vi, amiga: era tarde.

Quando o vento não me fez abrir os braços

ao abraço sideral de estar voando

e a pandorga me fugiu sem dizer quando

eu vi, amiga: era tarde.

Quando o guarda que dormia nos brinquedos

pôs o dedo no olhar da minha pressa

e quis ver o que a vida fez de mim

eu vi, amiga: era tarde.

Quando a noite foi algema no meu sono

e eu, de dono, fui escravo de um relógio

e no pulso pus dilema e cotidiano

eu vi, amiga: era tarde.

Quando o tempo foi julgado em outra lei

e a tristeza me beijou, tão natural

nas paredes, no vazio fundo da casa

eu vi, amiga: era tarde.

Muito tarde.