TEMPO DE PÉ NO CHÃO

TEMPO DE PÉ NO CHÃO

Vivi o tempo do pé no chão

Do pouco que era muito

Do fazer com as próprias mãos

Do comer fruta no pé

De escalavrar os pés

Nas peladas de rua

Nas mãos sujas

De tacos e bolinhas de gude

Dos olhos voltados para o alto

Hipnotizados pelas pipas e rabiolas

Nos esfolados das pernas

Frutos dos carrinhos de rolimã

Na cabeça vazia cheia de alegria

Mesmo com a panela meio vazia

E tudo era festa ou briga

Menos o remédio pra lombriga

Na colher encardida

Mas em contrapartida

Tinha o Biotônico Fontoura

“Pra dá sustança”

E aguentar o fruto das lambanças

Quando o cabo da vassoura

Batia na bunda

E a razão da tunda

Era a malcriação

Que não tinha perdão não

E era seguida pelo castigo

Sem rua preso no abrigo

Sem pelada com os amigos

Mas com a certeza

Que mais dia menos dia

Voltaria a beleza

E assim era

À vera

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 08/06/2023
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