Branco e preto, preto e branco

Ontem

Soltando os últimos suspiros de dor

No horizonte o sol declina agonizante.

Seus tênues raios se extinguem na escuridão.

O céu começa a derramar suas lágrimas.

Caminho a esmo pelas ruas sem vida

Carregando no coração o peso da desilusão.

Pior do que morrer é sofrer sem amor.

Para que renascer se a vida é sofrer?

Meus sentimentos oscilam como pêndulo

Sem equilíbrio e em desarmonia.

Estou mais para lá do que para cá

Cheio de desejos, sonhos e angústias.

Esta vida sem vida não consigo aceitar

Acorrentados nos pensamentos fico.

Viver o momento presente não consigo

Perdido no deserto estou.

Minha razão de existir se vai

Sinto frio até em tardes quentes de verão.

Sou como um navio a deriva sem leme

Querendo em porto seguro aportar.

Bebo tentando a minha dor afogar

Para esta angústia sem fim espantar.

Que em vez da tempestade amainar

As doces e amargas memórias se agitam.

Na negritude da noite do meu ser,

Na tristeza e silencio do anoitecer,

A lua surge serena e amorosa querendo iluminar

Minha alma e renovar a esperança que se esvai.

Gostaria que nunca tivesse nascido.

Por que tanta dor e sofrimento?

Por que tanta ansiedade e frustração?

Por que tanta solidão e separação?

Por que, por que a vida é assim?

Hoje

Ontem meu mundo estava destruído

Sem esperanças de um melhor porvir.

Hoje o sol recomeça a brilhar

Iluminando a rota de novos horizontes.

Nada é eterno ou dura para sempre

Superamos as infelicidades por maiores que sejam.

Entre tempestades e calmarias

Vamos navegando no oceano da vida.

Assim como os momentos de dor e infelicidade,

Momentos de felicidade e alegria também passarão.

Nessa alternância entre bons e maus momentos

Vivemos na esperança de chegar à plenitude.

Os vales existem porque existem os picos.

A morte existe porque a vida existe.

O mundo existe devido às dualidades.

A alternância é a essência da vida.

Aceite a tristeza, a dor e a infelicidade.

Sem a dor não haverá o prazer,

Sem tristeza não haverá a alegria,

Não condene a lama, da lama nasce o lótus.

Assim como da lama nasce o lótus

Do sofrimento nasce a nossa temperança.

Com o sofrimento amadurecemos

Tornando o nosso ser mais valioso.

Assim, procure sempre se lembrar

Na infelicidade ou na felicidade,

Na dor ou prazer, na tristeza ou alegria,

Isso também passará, alias tudo passará.

Reconstruir o passado é impossível

Restando apenas experiências e lembranças.

O futuro está distante nunca chegará

É só expectativa e esperança.

Vivenciar cada momento é preciso

Para seguir sem arrependimento ou lamento.

O momento presente é a única realidade

É onde a vida acontece.

Aceitando a vida como ela é devemos viver.

Abandonando as memórias psicológicas

Desfrutando cada momento,

Como se fossem os últimos

Desta vida efêmera e de dualidade.