Obra de Arte

 

São tantas coisas que me passam.

Coisas grandes, imensas que me atravessam

e eu não consigo captar com os dedos e palavras.

 

Eu queria dizer tanta coisa,

queria desenhar, gritar, pintar, tatuar...

mas me falta algo... talvez a tinta

para colorir a escuridão que se faz ao redor...

talvez o papel para preencher tuas linhas em branco...

talvez o pincel para criar uma obra de arte

com uma face que nunca vi...

que sempre imaginei... sonhei...

ou o espelho, o eco... o abismo

para devolver a voz muda e articulada

de meu grito da alma...

Não sei, não sei...

 

Talvez... seja a presença de uma ausência,

mas talvez a presença de algo que sobeja a alma,

o coração e não tem para onde transbordar...

 

Ou, talvez... talvez, seja a proximidade

da mesma solidão que quase te conquistou.

E quem pode dizer que nunca se deixou levar pela solidão?

Ela nos toca em nossos momentos mais intensos,

onde a brisa vem e derrama um sopro de quietude na alma...

 

E o corpo se fecha...

E a concha e abre e mergulho

na profundidade de meus pra dentro...

como um sol que paira por sobre a água, sem um som,

sem um movimento, enquanto seus raios descem,

silenciosamente, até o fundo mar...

e lá se escondem... até a escuridão passar...