Doce senectute
Amputaram minhas pernas
Me jogaram no lixão
Eu não sirvo mais pra nada
Sou apenas velho e nada não
Tudo que fiz nem na lembrança ficou
Lutei, forcei meu corpo
Para parir filhos maus
Sucumbo porque sou vil
Sou animal, tô num canil
Será que eu pratiquei o mal?
Eu acho que não
Mas a dor desse meu peito
Me deixa constrangido
Não tenho forças para conter os males
Não consigo lutar
Estou condenado
Amputaram-me por inteiro
Não tenho mais dinheiro
Os meus filhos me furtaram
O estado me enganou
Fiz de tudo pelo mundo
Olha só o que restou:
Uma pobre senectute
Uma dor, uma tempestade,
Mais um dos Raimundos. Na verdade.