Doce senectute

Amputaram minhas pernas

Me jogaram no lixão

Eu não sirvo mais pra nada

Sou apenas velho e nada não

Tudo que fiz nem na lembrança ficou

Lutei, forcei meu corpo

Para parir filhos maus

Sucumbo porque sou vil

Sou animal, tô num canil

Será que eu pratiquei o mal?

Eu acho que não

Mas a dor desse meu peito

Me deixa constrangido

Não tenho forças para conter os males

Não consigo lutar

Estou condenado

Amputaram-me por inteiro

Não tenho mais dinheiro

Os meus filhos me furtaram

O estado me enganou

Fiz de tudo pelo mundo

Olha só o que restou:

Uma pobre senectute

Uma dor, uma tempestade,

Mais um dos Raimundos. Na verdade.

Elié Silva
Enviado por Elié Silva em 16/12/2007
Código do texto: T780725
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