maré da falta
sou presenteada com a falta
perscruto os labirintos
passeio entre doce-amargo
varro as cores decifrando ausências
olhos que se reconhecem
olhos que se desviam
te leio – no ato
te ouço – perco o significado
entre as ondulações físicas suspensas
posso enxergar a melodia do seu riso
as conexões invisíveis
sua arte estampada – me reflito
a mansidão implícita das minhas águas
a intensidade do teu mar
e as intempéries da existência
cruzam os nossos caminhos horizontais
em rara intersecção
trago-te em minhas ondas
flutuo em seus fios
regozijo no tempo a beleza do pertencer
abraço o balanço da incerteza
me entrego
tremo – me abstraio
retorno, preencho-me completamente de ânsia
prolongo os contatos sutis e efêmeros e doces
releio e remonto os passos incertos no escuro
e no preamar dos meus pensamentos repouso
junto os vazios em meu peito cansado
e quinze vazios são
em meu coração