MEMORIAL DOS MORTOS

Nós, os mortos

saudamos os vivos

pois sem eles

estaríamos mortos

Felicitamos os olfatos

que nos renasce no evocar do cheiro

do perfume antiquado que usávamos

e que por aí ficou em alguma camisa

que alguém esqueceu de lavar

Como fantasmas palpáveis

continuamos na superfície das coisas

abandonadas ao mundo dos outros

que agora já não nos pertence mais

Naquela música que um dia dançamos

abraçados ao sonho das futuras eternidades

hoje nos faz bailar no piso encerado

de um salão que não existe mais

juntinhos e pregados ao sonho

das eternidades remotas do passado

Nós, os mortos

somos feitos de sabores

aromas, sons e lembranças

deixados por detrás dos panos

acortinados no fundo palco da memória

No memorial dos vivos

os mortos ressuscitam

como notas de rodapés

dos livros pessoais de cada história

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 01/06/2023
Reeditado em 01/06/2023
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