O Senhor das cinzas
Eu sou um pó/
Que descobriu o vento/
E segue enveredando onde repousa a luz/
Soberbo altero a voz/
Imponho ao riso o silêncio/
Desvio os rios/
Reduzo montanhas/
Acorrento as feras/
Invento a cidade/
Adultero as leis/
Faço na noite a claridade /
Pilho da terra tesouros/
Reclamamo das dores/
Mas sigo fazendo subserviente o trabalho/
Limito o amor ao prazer/
Por entender, que assim vale viver/
Por vaidade/
Me demito do ser humano/
Pra ser um deus/
A promover a desigualdade/
Pra ser superior/
Não sossego com a paz/
Busco a guerra/
Que me rende mais/
Agnóstico, nego qualquer existência superior/
Conheço apenas a força do ouro/
Que direciono pra viver mais/
Mas quando amanhece/
Num estalar de quase um segundo/
Um corpo putrefato padece/
No chão de terra batida/
Não há ouro ou prata/
Que o faça acordar/
A brisa ainda vem visitar/
Mas ela só passa/
Porque às flores foi refrescar/
O céu infinito de estrelas/
Valsa sobre o gorjear dos pássaros/
Enquanto sensíveis /
Desenham lágrimas no rosto sofrido/
Pra aliviar/
O fato está nas horas que faltam/
Qual é a palavra final/
Pra executar/
Aí estar...
Qualquer vida é passageira/
Oriunda de uma razão verdadeira/
Então o que construir/
Pra não se perder/
Sob o efeito do ópio de tanta luxúria/
Entre os muros das celebridades/
Sem consultar a lei/
Por mim /
Não sou da verdade/
A certeza, mas com humildade/
No olhar, vejo pela natureza/
Que só há lugar eterno/
Pra quem quer aprender a amar/