No tempo das flores
No tempo, que o tempo nasceu/
Escolhidos fomos você e eu/
Sem muito a conhecer/
Éramos Inquietos na vontade de ser/
Mesmo sem ter com o quê/
Já amanheciamos acabando com a paz nas casas/
Sem arrogância/
Dávamos vida as latas/
Soltavamos o grito nas praças/
Seguíamos a duras penas as pegadas/
Que a década impunha/
Sob efeito de um simples olhar/
Fazíamos paus, pneus, aço e asfalto/
Num faz de conta serem carros/
Descendo as ladeiras/
Fazíamos do ambiente hostil/
Intimidades para qualquer civil/
Fazíamos o papel casar com a tinta/
Pra ganhar os céus além da imaginação /
Caixas e meias/
Água da chuva e areia/
Árvores e quintais/
Cenários de nossas grandes aventuras/
Brincávamos do início ao fim/
Brincávamos de roda e de corridas/
Defendiamos a justiça/
Mesmo sem nada entender/
Contávamos sonhos e histórias/
Ríamos por aí/
Rindo para transpor/
A miséria e a dor/
Ao nos tornar descobridores/
De um céu imensamente lindo/
Dos mitos, medos e verdades/
Inventavamos a amizade /
Que nos comprometia por toda idade/
E assim, o mundo parecia que não sairia do controle/
A luz de velas/
Traçamos linhas paralelas/
Inocentes ouvindo a voz/
Enxergando a flor/
Conhecendo a necessidade do amor/
Tudo era alegria/
Que financiava a fantasia/
Apesar das dificuldades/
Sob a égide do espírito de solidariedade/
Quantos muros, rios e estradas/
Tornamos obras e artes/
Sob o farfalhar daquela época/
A energia sempre era renovada/
Andávamos de mãos dadas/
Por nossa pátria amada/
Venciamos o cansaço/
Sentindo a música/
Olhávamos nos olhos/
Beijavamos e nos apaixonavamos/
Mas quando nos demos conta/
A tempestade já ocupava o seu lugar
Pouco ou nada, podemos controlar/
Muitos se perderam/
Muitos morreram/
E hoje, apesar da fortaleza/
A luz deu lugar a escuridão/
Cada um por si/
E a morte é a única negociação/