Escrevo palavras concretas
Escrevo palavras concretas
No vazio da cárie dos pneus
Ultrapasso o pedaço
Que separa o futuro
Daquilo que nunca ocorreu
As palavras são velhas
E vão ficando cansadas
Querem dizer algo
Mas esquecem o que é
Deixam de ser concretas
E vão se tornando diáfanas
Sem significado qualquer
Democracia, liberdade, direitos
Vão amarelando
E pouco a pouco escorrem
Se misturam com o ódio
Violência, pavor
Na confusão não se distinguem
Por fim viram paçoca de letras
São devoradas pelos mudos
Que transmitem sinais
Que ninguém entende