Pílula encontrada no chão (Parafuso? Caneta? Poema? Ou um grão?)
I
Eu me abaixei e encontrei
uma pílula branca no chão.
Não sei pra que era, se era…
de fazer sorrir ou fazer morrer.
de parar de sentir dor…
de parar de sentir tudo…
de…
parar de sofrer.
Ou se era na verdade, um grão.
Um grão de qualquer coisa; ou se era
na verdade: só um pedaço de parafuso.
… Do frouxo dos meus parafusos.
II
Mas, me parece uma pílula
que se eu engolir…
eu aprendo a entender
as dúvidas que tenho sobre
a maldade das pessoas.
Ou se era, na verdade…
Sei lá, um pedaço do reboco
da parede branca.
Eu encontrei uma pílula
branca no chão do quarto
eu estava triste encarando
… um prato com um delicioso
carneiro ao molho de ameixas
e salada… com suco de Caju.
… pensando em tudo que
essa pílula poderia curar
dentro de mim e do mundo.
Quase chorei um pouco.
III
não cheguei a transbordar
e avermelhar o meu rosto…
quase chorei um pouco ao tentar
decidir qual seria…
O MELHOR efeito
pra essa pilula branca
encontrada no chão.
“É remédio?! É Parafuso?!
É sujeira?! É grão?!”…
“Queria não sentir a ruindade dos outros…
queria ser bem estúpido, e nada ver
nada vendo, nada pra ver…
nada a compreender já que nada entendo”
Calmo por excesso de burrice.
Sentado… lerdo, em frente a TV
ou num canto da rua imerso em minha ignorância
de quem vive feliz e vive TUDO…
Ainda que não entenda nada.
IV
Eu posso ter ingerido uma porca
ou até mesmo um cocô de morcego
de rato, de macaco, gambá, eu sei lá…
Eu posso ter bebido um toco de caneta…
eu posso ter bebido remédio pra Corona Vírus
remédio pro câncer, “Coquetel Anti-ranço”…
Eu posso ter superpoderes…
Eu posso ter virado imortal.
Eu posso ter tomado algo que me fará
PARAR de escrever e isso é maravilhoso.
Pois minha poesia é
codependente de minha tristeza.
Se eu parar de escrever é porque finalmente
as coisas passaram a dar certo… Pra mim.