A mensagem
Um tempo interrompido
Na mensagem surpreendente...
Que se fez bilhete de papel.
A memória deu asas ao passado
Num instante, num retorno de trinta anos,
A um portão frágil pequeno e cúmplice
De uma casa na rua da adolescência
Onde se debruçava menina de óculos
De sorriso sincero, contente...
De riso contagiante...
Já perto do final do século XX
O namoro era assim, no portão,
Com conversas, insinuações
Com toques de mãos, sem beijos
Olhares, apenas olhares, um tanto insinuantes
Despretensiosos ou medrosos
Na rua vazia e segura do entardecer do passado
À meia luz, talvez...
Aqueles encontros nos finais de semana
Esperados por cinco dias de saudade
A vizinhança chamava de namoro
Os colegas chamavam de namoro
Mas só olhos se encontravam
Em sorrisos insinuantes
Nem um só beijo conta aquela história
Era assim o encontro semanal
Dos dois adolescentes que dividiam
A entrada do portão da casa da madrinha
Da menina de óculos e o menino
Que se desencontraram no tempo
Sem cartas, sem marcas
Muito menos as de batom
O arrepio, os olhares
Os risos, as piadas,
Os toques, a taquicardia
Que não ultrapassaram o portão
E nem a distância íntima do suspiro
O tempo passou, como o sorriso com beijo de vento