ESCÁRNIO FEBRIL
A razão sempre tem suas razões,
por vezes insanas, por vezes injustas,
por vezes carrascas, por vezes benditas.
São estalos que a vida se desnuda e faz,
cada pétala esgarça os sentidos, desmascara verdades,
dá rasteira nas estruturas mais atrozes, mais trôpegas.
Razão é meio lança-perfume, meio ovelha negra,
meio banho de espuma, meio Rita Lee.
Tem versos mancos que encantam,
tem feridas que nunca fecham de vez,
tem no seu útero o néctar proibido da vida.
Razão é moleca travessa, escárnio febril,
soco no estômago das certezas.
Razão é nonsense a molho pardo,
fagulha brochada da pretensão,
réstia mal dormida da fé.
Na razão desatino meus dias,
reverbero cada quinhão do querer-bem,
revigoro o calafrio pra mais uma jornada.