Para quê?
Para quê?
Para quê parar o tempo se ele tem autonomia?
Se o parasse o momento já nem sequer existia
E então que seria das lágrimas que a vida chora?
Permaneceriam paradas humedecidas no tempo de agora
E as dores caladas adormecidas nos ponteiros?
Que abafadas ficariam tontas e confusas nos seus roteiros
E a desilusão do amor que severamente nos golpeia?
Não daria lugar ao que docemente nos premeia
E a noite escura e pesada não tiraria o luto?
Esquecida da luz pura do sol dourado e resoluto
E o silêncio que se arrastaria pesaroso e emudecido?
Nem uma palavra de alegria para o meu sequioso ouvido
E então eu, enfim, para quê parar dentro de mim?
Se sou borboleta no céu e flor do meu próprio jardim
Luísa Rafael
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Porto, Portugal