O TRANSMUTAR DO TEMPO

Trago em mim a intimidade das horas

o cochicho murmurante dos minutos

e a invisibilidade breve dos segundos

Trago em mim o rasgar dos calendários

o tic tac inaudível e incansável dos relógios

e o odor do mofo das agendas desusadas

Trago em mim o enferrujar das décadas

o peso acumulado dos anos ralos

e as cantigas repetitiva dos aniversários

Trago em mim a insônia das madrugadas

o vampirizar boêmio das noites

e o afogar do Sol no poente das tardes

Trago em mim o enfartar súbito dos instantes

o transpirar momentâneo dos eventos

e as cicatrizes na pele dos acasos

Trago em mim as saudades dos prazos vencidos

as memórias do que agora fora me são buracos

e as lembranças que esqueci de lembrar

Trago em mim velórios das coisas passadas

a gulosa avidez esfomeada de Cronos

e a certeza de que sem mim o tempo

não muda se desloca nem morre

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 22/05/2023
Reeditado em 22/05/2023
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