O TRANSMUTAR DO TEMPO
Trago em mim a intimidade das horas
o cochicho murmurante dos minutos
e a invisibilidade breve dos segundos
Trago em mim o rasgar dos calendários
o tic tac inaudível e incansável dos relógios
e o odor do mofo das agendas desusadas
Trago em mim o enferrujar das décadas
o peso acumulado dos anos ralos
e as cantigas repetitiva dos aniversários
Trago em mim a insônia das madrugadas
o vampirizar boêmio das noites
e o afogar do Sol no poente das tardes
Trago em mim o enfartar súbito dos instantes
o transpirar momentâneo dos eventos
e as cicatrizes na pele dos acasos
Trago em mim as saudades dos prazos vencidos
as memórias do que agora fora me são buracos
e as lembranças que esqueci de lembrar
Trago em mim velórios das coisas passadas
a gulosa avidez esfomeada de Cronos
e a certeza de que sem mim o tempo
não muda se desloca nem morre