DE TANTO QUERO MAIS
Minha alma às vezes encarde, enferruja as dobradiças, desanima.
Assim fica até sempre, descabelada e senil.
Mas esse alvoroço logo desanima da dor, atiça os músculos e
refaz a ginga original.
Mas, mesmo assim, farelos daquele tempo aguerrido, lamentado,
ainda sobrevoam meu chão.
Olho para aqueles vestígios com jeito ressabiado, talvez
temendo que renasçam mais atarantados, mais sedentos de novos cuspes,
novas arrebentações, mais sei-lá-o que.
Assim vou na busca por novos dias, alinhavando o passado e
presente numa cantiga arrastada, embebida em desafinos e desatinos.
De vez em quando sacudo meus quitutes buscando tecos de ar, cadê?
De vez em quando rezo para o vazio querendo caçar algum unguento.
alguma fuligem amiga. Em vão.
Relampejos surrados atropelam o canto com furor.
Daí percebo que a tal alma puída se reaqueceu, quanto alívio dá.
Daí volto à ribalta aprumado e cheio de fé, de encanto, de luz.
E de tanto quero mais.