SOBRE O VENTO QUE PASSA

Respiro no ar

o cheiro das frutas estragadas

e o vapor dos suores transpirados

por corpos remotos e findados

O oxigênio que inalo

vem do exalar de narinas passadas

reciclado pela clorofila imóvel das gramas

e do sombrear verde das árvores

que protegem o escaldar dos minutos consumidos

que os dias levam no chegar das novas madrugadas

No caducar das casas e dos telhados

que margeiam o caminhar nas calçadas

a existência atravessa as ruas da vida

como um transeunte disperso, alheio e distraído

que fora da faixa dos pedestres não olha semáforos

indiferente ao perigo dos carros e dos assaltos

Enquanto caminho sem espelhos ao lado

persigo coelhos brancos imaginários

como se estivesse no adiantado das horas

embora esteja sempre atrasado, atrasado

Quando estiver cansado e sentado à beira

vou me enfiar na primeira toca que encontrar

e ir para o outro lado do lado de cá

fertilizar o chão do amanhã

alimentando à seiva das árvores

e ventilar o ar inalante das crianças vindouras

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 18/05/2023
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