NEM TUDO ENVELHECE NESSA VIDA

Tudo envelhece nesta vida.

As pedras, a areia, as rimas, os ninhos.

Envelhecem as verdades, os sustos,

as desculpas, o paladar, o acarinhar.

Envelhecem os sonhos, as despedidas,

a saudade, o vento, a solidão.

Envelhecem as rugas, as manias, as vontades.

Como envelhecem os desejos,

a espera, o perdão, aquele poente encantador.

Tanto envelhece a voz, o suor, a razão.

Também muito envelhece o encardido,

o doído, o amalucado, o remexido, o puído.

Envelhece cada outono perdido,

cada aceno tardio, cada olhar sem arremate.

Envelhecem as vontades, os temperos,

as portas sem tranca, os medos sem dono.

Sim, envelhece o sangue, os degraus,

aqueles porões que mantemos ancorados.

Envelhecem os cabelos de Deus.

Uma coisa só não envelhece, nunca mesmo.

É aquele pequeno filete da paixão que guardamos

no fundo do baú da nossa alma,

bem lá no fundo, escondido toda vida.

Por mais que tudo envelheça neste mundo,

por mais que tudo vire cinzas, vire lodo, vire pó,

este filete vivo manterá seu vigor original,

como orquestra só esperando o maestro dar o sinal

pra emergir, pra eclodir, pra virar imensidão.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 16/05/2023
Código do texto: T7789959
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.