A língua do poeta
Quase ninguém entende o que fala o poeta
Porque ele fala de um jeito seu.
Não se pode sugerir que seja a língua da arte
Pois a do poeta é diferente.
Seu jeito é distinto, suas palavras são outras
Com mesmo som, outras contudo.
[Por exemplo]
O "tapa" que o poeta dá é outro, é bom
Acalenta.
Falando pela (através) da atmosfera,
Ele diz "o sol luzia", ou "o maçarico tá aceso"
Quando poderia dizer que está calor.
Ai de quem se enamora, quem se envolve com o poeta
E não aprende a falar sua língua
Porque pode acabar por sofrer
Se achando não importante,
Já que o poeta lhe diga, talvez,
"Faz falta"
Ou
"É só seu cheiro em meu travesseiro"
No lugar de dizer "estou com saudades".
Ainda bem que resta o beijo,
Idioma em que toda língua se encontra,
E que ajuda o poeta com dificuldade de se expressar
A demonstrar seu amor no instante de deleite
Sua saudade no reencontro
E o calor que sente, no beijo de tirar fôlego e causar palpitação.
Do resto, a língua do poeta é um mistério
Até para ele próprio,
Que não sabe, por vezes,
Donde vêm suas palavras, mesmo sabendo
Donde vêm seus sentimentos.