A língua do poeta

Quase ninguém entende o que fala o poeta

Porque ele fala de um jeito seu.

Não se pode sugerir que seja a língua da arte

Pois a do poeta é diferente.

Seu jeito é distinto, suas palavras são outras

Com mesmo som, outras contudo.

[Por exemplo]

O "tapa" que o poeta dá é outro, é bom

Acalenta.

Falando pela (através) da atmosfera,

Ele diz "o sol luzia", ou "o maçarico tá aceso"

Quando poderia dizer que está calor.

Ai de quem se enamora, quem se envolve com o poeta

E não aprende a falar sua língua

Porque pode acabar por sofrer

Se achando não importante,

Já que o poeta lhe diga, talvez,

"Faz falta"

Ou

"É só seu cheiro em meu travesseiro"

No lugar de dizer "estou com saudades".

Ainda bem que resta o beijo,

Idioma em que toda língua se encontra,

E que ajuda o poeta com dificuldade de se expressar

A demonstrar seu amor no instante de deleite

Sua saudade no reencontro

E o calor que sente, no beijo de tirar fôlego e causar palpitação.

Do resto, a língua do poeta é um mistério

Até para ele próprio,

Que não sabe, por vezes,

Donde vêm suas palavras, mesmo sabendo

Donde vêm seus sentimentos.

Crônicas de um Ignorante
Enviado por Crônicas de um Ignorante em 16/05/2023
Código do texto: T7789951
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