Eles pensam que eu não sei
Que eu preciso de um sustento além dos meus pais
Que eu preciso correr atrás do dinheiro
E sujeitar minha vida às humilhações de um remediado
Que eu preciso colocar o nariz de palhaço e fingir que não está tudo tão errado
Que eu preciso bater palmas igual uma foca amestrada (e maltratada) pra esse circo de horrores
Que eu preciso me domesticar e aceitar o destino dos que ganham miséria e ainda justificam essas desigualdades absurdas, esse mundo podre
Eles gostam de me aconselhar
Mas não é fácil descer das nuvens
Eu tenho medo de cair de cara no chão duro
Não é fácil fingir que trabalho não é exploração
Que o Brasil não é um país bruto
Que a civilização não é um castelo de cartas
Não é fácil normalizar a mentira quando sempre se buscou pela verdade
É praticamente impossível regredir para a crença em vida eterna e justiça divina
Depois de tantos anos com os olhos tão abertos pra realidade mais íntima
Que está além das aparências
Que está em tudo
Eles pensam que eu não sei
Eu só não sei deixar o meu canto seguro
E cair nessa selva que chamam de normalidade
De me enganar comos eles fazem
Eu sei que deveria ter uma vida mais estruturada
Mas não é fácil descer das nuvens
E colocar os grilhões nos pés
Não é fácil se transformar em uma máquina de fazer lucros para os outros
De ser usado como uma coisa
Não é fácil fechar os olhos, a boca e tapar os ouvidos para as próprias injustiças
Não é fácil aceitar esse tão pouco
E ainda ter fé ...