Eles pensam que eu não sei

Que eu preciso de um sustento além dos meus pais

Que eu preciso correr atrás do dinheiro

E sujeitar minha vida às humilhações de um remediado

Que eu preciso colocar o nariz de palhaço e fingir que não está tudo tão errado

Que eu preciso bater palmas igual uma foca amestrada (e maltratada) pra esse circo de horrores

Que eu preciso me domesticar e aceitar o destino dos que ganham miséria e ainda justificam essas desigualdades absurdas, esse mundo podre

Eles gostam de me aconselhar

Mas não é fácil descer das nuvens

Eu tenho medo de cair de cara no chão duro

Não é fácil fingir que trabalho não é exploração

Que o Brasil não é um país bruto

Que a civilização não é um castelo de cartas

Não é fácil normalizar a mentira quando sempre se buscou pela verdade

É praticamente impossível regredir para a crença em vida eterna e justiça divina

Depois de tantos anos com os olhos tão abertos pra realidade mais íntima

Que está além das aparências

Que está em tudo

Eles pensam que eu não sei

Eu só não sei deixar o meu canto seguro

E cair nessa selva que chamam de normalidade

De me enganar comos eles fazem

Eu sei que deveria ter uma vida mais estruturada

Mas não é fácil descer das nuvens

E colocar os grilhões nos pés

Não é fácil se transformar em uma máquina de fazer lucros para os outros

De ser usado como uma coisa

Não é fácil fechar os olhos, a boca e tapar os ouvidos para as próprias injustiças

Não é fácil aceitar esse tão pouco

E ainda ter fé ...

Mais um Thiago
Enviado por Mais um Thiago em 16/05/2023
Código do texto: T7789826
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