Doação

Quem se doa, sem quaisquer limites

Perde a noção do que lhe pertence

Porque recusa sempre os convites

E aceita aquilo que não o convence!

Quem se doa, sem quaisquer barreiras

Perde o tino do espaço que ocupa

E percorre a estrada pelas beiras

Como se tivesse de pedir desculpa!

Quem se doa, perdendo o próprio respeito

Percorre os caminhos da ingratidão

Tornando a vida num túnel estreito

Que termina sempre em solidão...

Mas sobram, de todas as dores

certas certezas que amenizam...

Pois entre espúrios e louvores

há amores que se eternizam...

Viver, é gestar a própria morte!

E, dos HOMENS com carros de bois

até aos homenzinhos com carros de sorte,

o final é sempre igual, no caso dos dois...

Jacinto Valente
Enviado por Jacinto Valente em 14/05/2023
Reeditado em 04/07/2023
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