QUANDO AQUI CHEGUEI
Quando aqui cheguei
as ruas eram feitas de casas
e os poucos prédios
eram de três andares de escada
Quando aqui cheguei
os galos chamavam o Sol
espantando as estrelas nas madrugadas
e o dia amanhecia mais cedo
amarelo e encantado
Quando aqui cheguei
não havia supermercado
as mercearias e as quitandas vendiam fiado
com moedas se comprava dezenas
de confeitos de sonhos caramelados
e tudo parecia confeccionado
em um amontoado de secos e molhados
Quando aqui cheguei
as meninas usavam trancinhas
lacinhos e vestidos babados
enquanto os meninos só usavam calça comprida
em dias santos, aniversários e feriados
Quando aqui cheguei
minha avó tinha cabelo nevado
era surda do ouvido esquerdo
e como os outros velhos tinha minha idade
e passava horas na cadeira de balanço
embalando a despedida das tardes
Quando aqui cheguei
todos estavam vivos
como continuam nos retratos
e na mesa dos meus aniversários
não faltava mais ninguém
Quando aqui cheguei
antes eu não existia