DIZENDO
Meu menino, não me olhes assim
como que vendo um estranho bom
eu não vou conseguir te salvar
de tua parca condição, do teu parco futuro,
da tua miséria de arrabalde.
Eu te digo que te levarei comigo
para esperanças vãs
para desditas que teu sorriso de infante
nunca fez por merecer.
Eu te atrelei às minhas escolhas
e não pude te dar tua felicidade
porque a minha se extraviou
nos desvãos da existência.
Eu sei que essa adoção é para sempre
e essa opressão de ti em mim
é uma luz que se esvai
uma vida quase ceifada
na madrugada de um poema ruim.
Em algum lugar, eu larguei da tua mão e passei a conduzir tua silhueta.