Colo de mãe
Nos seus braços estou sempre tão tranquila.
Sonho e vejo tanta cor sem narração.
Houve um tempo que eu quis crescer, me lembro…
Que bobagem, minha mãe, peço perdão.
Hoje já com tanta idade recorro às lembranças
de quando menina brincando na sala simples.
Candeeiro sempre aceso,
iluminando as conversas de vocês:
meu pai, na casa, assegurando todos nós.
A casa foi construída
enquanto construímos nossas histórias.
Recordo tudo, como se estivesse lá.
Hoje vendo a foto nojornal, chorei muito,
um menino sem nada disso pra contar…
Fiquei tragicamente triste, compadecida.
Também por ver tanto filho iludido,
tendo mãe por perto e eles tão longe.
Tendo vida,
e eles a preferindo desaparecer da realidade…
Gratidão meu Deus, por minha infância rica:
No luxo da esteira e da colcha de retalho.
Na riqueza do pão sempre repartido.
No milagre do dinheiro tão contado.
Gratidão meu Deus,
por ter me nutrido com todas as receitas simples,
que hoje estão em restaurante caro:
sopa de cebola, arroz doce, cozido de mamão verde,
bolinho de arroz bem temperado,
cavaco, bolinho de chuva, doce de genipapo…
Peço a Deus que esse menino ao menos sonhe,
ter seu sonho um dia, realizado.
E feito eu, ter da mãe os braços ofertados.
Solineide Maria, filha de Dona Regina e do Sr. Lourival (in memoriam).
Brasil, 2023.