Solitário

Como um fantasma que se refugia

Na solidão da natureza morta

Por trás dos ermos túmulos, um dia

Eu fui refugiar - me à tua porta

Fazia frio e o frio que fazia

Não era esse que a carne nos contorta

Cortava assim como em carniçaria

O aço das facas incisivas corta

Mas tu não vieste ver minha desgraça

E eu saí, como quem tudo repele

Velho caixão a carregar destroços

Levando apenas na tumba carcaça

O pergaminho singular da pele

E o chocalho fatídico dos ossos

(Augusto dos Anjos)

Augusto dos Anjos
Enviado por Kaynne em 11/05/2023
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