AGORA NÃO MAIS
Agora não mais
teu rosto encostará no meu
nas noites febris em que passava
em tua cama deitado ao teu lado
Agora não mais
teus dedos ágeis cuidarão dos meus
no atravessar perigoso das ruas
em busca do chegar incerto
dos minutos logo vindouros
Agora não mais
hei de te ver olhando as tardes
debruçando-se sobre o horizonte dos morros
ao se esconder por detrás
dos telhados das casas e das cidades
Agora não mais
me verás o sazonar do meu corpo
e o esticar da pele sem acnes
que me encobre os ossos e a alma
que trago agasalhado
embaixo do encurtar gradual das roupas
Agora não mais
iremos juntos ao comércio das calçadas
e perambularemos pelo tempo sem olhar relógios
embora sempre às dezoito horas
ouçamos o toque das Trindades
no orar das Ave Marias
nas exatas horas da Anunciação
Agora não mais
passarás as madrugadas em claro
a urdir com teus fantasmas
no silêncio desocupado da casa
as mesmas repetidas preocupações
enquanto me divirto com o barulho
agitado das ruas e dos hormônios
no borbulhar efervescente
da minha primeira quinzena de anos
Agora não mais
irei te ver sumir no mar da praia
daquele fatídico janeiro
no ano seguinte ao que fiz
os meus tristes dezesseis anos
Agora não mais