Eco das ancestrais
Sob as frestas da janela da minha alma
Ouço um grito, sussurrado
Como assovio do vento, vindo do sul
dizendo-me palavras,inauditas
apelos ancestrais de justificação.
Penso na primeira ancestral
Que veio ao Brasil sem direitos
Traficada sob uma égide, sem moral
Reduzindo-a à um objeto
Sem inteligencia,sem alma.
Penso nas vezes que olhava o céu
Sem compreender sua situação
pedindo ao universo um pretexto, razão,
respostas para abrandar a agonia
e continuar lutando,dia-a-dia
Quais sonhos ela detinha?
Imaginava o mundo como imensidão?
Ou apenas a existência da sua lida?
Será que sonhava em viajar?
percorrer o mundo como uma andorinha?
Penso nas outras mulheres
Que vieram antes de mim
Que não puderam realizar os seus sonhos
Por causa da régua da sociedade,machista
que sufoca gerações femininas.
Penso que minha ansiedade
Vem do desejo de justificação
dessas mulheres que não foram ouvidas.
Que não puderam sonhar além,
do plano de ter uma familia.
Tidas como frágeis, histéricas, inconsistentes.
Espero que consiga, ao menos
orgulhar essas parentes distantes
oferecer minhas conquistas, simples
como sacrificio diante, da história
lhes dando paz e descanso.