POEMAS DE FAZ DE CONTA
FAZ DE CONTA
Faz de conta
que a poesia é meu abrigo,
que tenho intimidade com ela
e ela tem intimidade comigo.
Faz de conta
que meus versos são bonitos,
que meus versos lhe dão prazer,
que meus poemas são concebidos
com a mais pura essência do ser.
Faz de conta
que sei expressar profundamente
Todo esse amor que me domina,
Que minh’alma afortunada sente.
Faz de conta
que a poesia me salvará
do lugar comum da vida
e que ela me levará
à expressão da felicidade.
Faz de conta
que toda minha alegria
E toda minha melancolia
Consigo tatuar com palavras
No corpo da poesia.
Faz de conta
que minha poesia não é em vão,
que tem algum significado,
alguma utilidade, razão.
Faz de conta
que ela vai trazer guarida,
que ela vai causar no leitor
uma reflexão oportuna,
um despertamento de vida.
Faz de conta... Faz de conta!...
SEGUIREI POR MINHA CONTA
Se me fazem pouca conta,
Não me contam pra jornada,
Não desisto de minh’ conta,
Pois a tenho calculada.
Se minha conta não é nada
Para o mundo que me afronta,
Com min’alma obstinada,
Seguirei por minha conta.
Levarei o meu pacote
De esperança nesta vida,
Como fosse um Dom Quixote,
Com minh’alma destemida.
Seguirei por minha conta,
Combatendo o bom combate,
Com minh’alma sempre pronta,
‘Té que Cristo me arrebate!
FINGIR EU NÃO VOU
Fingir eu não vou,
Ser puro, ser santo;
Pois sou quem eu sou
No verso que canto.
Jamais fingiria,
Pra ter acalanto,
Rir sem alegria,
Chorar sem ter pranto.
No mundo que vivo
Verdade cativo,
Com todo penhor.
Jamais quando escrevo
Procuro, me atrevo,
Ser um fingidor!
NUNCA FAÇA DE CONTA
Nunca faça de conta
Que ama alguém sem amar,
Pois amor com falsidade
Quem é que pode contar?
Nunca faça de conta
Que quer o bem sem querer,
E que sente muita saudade
De quem não deseja ver.
Nunca faça de conta
Que a soma da tua conta
Na tua conta não cabe...
Nunca faça de conta
Que o bem e o mal que se apronta
Deus não contempla, não sabe!
DA CONTA DA MINHA VIDA
Da conta da minha vida
O somatório já fiz
Das alegrias sentidas
Que me fizeram feliz.
As alegrias sentidas
Somei num quadro, com giz,
Também as dores sofridas
Que me fizeram infeliz.
E minha conta comprida,
Depois de ser conferida,
Revela a força do amor...
Fiz a contabilidade
E minha felicidade
É maior que minha dor!
FAZ DE CONTA QUE MEU VERSO
Faz de conta que meu verso brasileiro
Toca fundo ao coração do ser humano,
Que é perfeito como d’um parnasiano
Caprichoso, como fosse um joalheiro.
Faz de conta que meu verso alvissareiro
Ele é preciso, eficaz e soberano,
Verbalizando a este mundo vil, insano,
Que só Jesus é o Caminho verdadeiro!
Ah! Faz de conta, meu leitor, faz de conta,
Que minha lira ela serve, ponta a ponta,
Pra dizer ao coração da humanidade
Que as razões para existirmos neste mundo
É pra servir nosso Deus cada segundo,
E para amar uns aos outros de verdade!
TIRE A MÁSCARA DO FAZ DE CONTA
Tire a máscara do faz de conta
E viva a vida sem fingimento!
Seja você mesmo, em todo tempo,
Porque a verdade sempre desponta.
Tire a máscara do faz de conta
E seja na vida quem você é!
Quem segue a verdade, chei’ de fé,
Felicidade no mundo encontra.
Maravilhoso é viver em paz,
Sem jamais se esconder por detrás
De uma máscara que a Deus afronta.
Não deixe a verdade esquecida, a esmo,
Seja sincero consigo mesmo...
Tire a máscara do faz de conta!
NÃO CONTO DA MINHA CONTA
Não conto da minha conta,
da conta que tem desconto,
da conta que tem dez contos?
Da conta que eu não conto.
Quem tudo o que sabe conta,
conta de tudo que sabe,
o povo faz logo a conta
da conta que não lhe cabe!
Por isso não falo a conta
pro mundo de faz de conta
da conta do meu vintém...
Se pro povo não dou conta
da soma da minha conta,
isso é da conta de quem?...
CONTA DE FAZ DE CONTA
Num mundo de faz de conta
ninguém pode se contar;
tem conta de toda conta
e conta que não se dá!
Por isso que minha conta
no mundo, de ponta a ponta,
prefiro não propagar.
Eu conto com minha conta,
dela posso assegurar,
co' a conta com que me contam
já não posso confirmar,
pois conta de quem aponta
num mundo de faz de conta
quem que pode confiar?...
Faço conta de minha conta
da conta do meu andar.
Quem quiser que sua conta
conte aqui, conte acolá!
Num mundo de faz de conta
é feliz quem faz a conta
mas prefere se calar!...
Se não, no final da conta,
nós que temos que pagar,
até sem dever a conta,
sem nada estando a comprar;
pois acham que somos pato
e o pato é quem paga a conta
aqui e em qualquer lugar!
O POVO É QUEM PAGA A CONTA
Olha o pato que paga a conta!
Olha a conta que paga o pato!
Mas a paga do pato conta?
Vale a conta que o pato paga?
Não precisa fazer a conta
Pra saber o valor do prato?
Mas se a gente não paga a conta
Quem é que vai pagar o pato?
Só precisa fazer de conta
Que o pato é quem paga o prato?
Coitado do dono da conta
Ou coitado do pobre do pato?
O governo é quem faz a conta
E o povo é quem come o prato?
É tanto imposto que conta!
É tanto dinheiro pro mato!
Pois do povo é tão grande a conta
E pouca comida no prato;
O governo faz sempre a conta
E o povo é quem paga o pato!
SE FAZES DE CONTA
Se fazes de conta
Que faço de conta
Que na minha conta
Sua conta não conta.
Se fazes de conta
Que sou descartável
E que minha conta
Não foi acertável.
Se fazes de conta
Que eu nunca trabalho
Você me afronta
Por quanto que malho.
Se fazes de conta
Que não me dedico
Não sabes o quanto
Eu me sacrifico.
Se fazes de conta
Que errei minha meta,
Que sou quem não sou,
Um pseudo poeta!
Se fazes de conta
Que só me tolera,
Que em vez de real
Sou uma quimera.
Então, meu amigo,
Lamento informar,
Foi tempo perdido
O seu calcular.
Sua conta está tonta
Por exagerar;
Perdeu-se na conta
Do seu prejulgar!
MAS QUE COISA!
A gente pensa que uma coisa é uma coisa
E nessa coisa pomos nossa fé,
Mas nem sempre uma coisa é uma coisa
Como a gente pensa que a coisa é!
Pensa que uma coisa é uma coisa e até
Pomos nossos sonhos sobre a sua lousa,
Mas de repente ela vira outra coisa
E a gente, pra escapar, dá marcha ré!
Mas que coisa é essa coisa? Será coisa
Que a gente compreendê-la jamais ousa
Ou será como um simples busca-pé?...
Essa coisa não é coisa marciana,
Sim, essa coisa é a natureza humana,
Imperfeita e imprevisível como é!...
UM MUNDO DE FAZ DE CONTA
O mundo é insuportável
Pra que eu viva o meu dia,
Por isso faço de conta
Que o mundo é poesia.
O mundo é insuportável
Com a sua melancolia,
Por isso faço de conta
Que o mundo é alegria.
O mundo é insuportável
Com a sua realidade,
Por isso faço de conta
Que o mundo não é verdade?
Por isso faço de conta
Que há outra realidade,
Um mundo que nós sonhamos
De amor e felicidade!
Mas onde está esse mundo?
Está noutra dimensão?
O mundo que nós sonhamos
Está na imaginação.
— Antonio Costta