Você nunca esquecerá que eu teria te amado completamente
Deixo esta aqui para que fique registrado
na tua alma, de modo que jamais se esqueça,
que independente dos tapetes puxados
eu teria te amado completamente:
tão toda, e correta, e inteira
do jeito que ninguém há de te amar.
Neste corpo preguiçoso que eu arrasto
destes dedos vagarosos que te escrevem
há um desejo, chama ardente em alto cetro
cujo tipo é indescritível quanto ao cerne:
tão forte, e valente, e designado
que existiu em prol de ti e ninguém mais.
Quantas poesias fossem precisas, comporia,
e enfrentaria o zigue-zague ilimitado
das tuas vias que a lugar nenhum me levam
com tuas mentiras que garantem o fracasso.
Em qualquer realidade admitida
captaria tua luz-guia em meu radar,
eu te acharia onde a coragem pende ao raso
e avisos dizem que não há o que procurar.
E te amaria mais que qualquer outro homem,
ou pessoa ou organismo concebível,
eu te amaria acima e além de a mim mesmo
com mais apego do que tenho pela vida;
eu te amaria do primeiro fio de cabelo
até os erros (meus muitos, teus vários),
eu te amaria bem ao molde da maneira
que você finge comumente cobiçar.
Eu sou teu rapaz, teu servo em palavras,
teu velho menino, teu elo cósmico,
a corrente presa, a hipótese morta,
a falha que volta e não resta engano;
eu sou a neblina debaixo da cama,
brilhante no escuro, figurada nos sonhos,
a memória nascente da canção alheia
engatilhando o fardo imenso da distância;
eu sou o chão que te acolhe se eles trancaram a porta,
a rocha que tuas ondas não erodem, o risco na córnea
formando a mão que puxa a perna e logo arrasta,
sou eu apenas que te sabe milimétrica
a quem não podem existir equivalentes;
são estes versos que condenam teus amantes
a para sempre serem menos e só menos
perante a sombra das estátuas colossais
edificadas nos sem-fins da tua ausência;
que eu seja o tiro penetrante antes de ouvido
tal ricochete em tua suposta consciência,
que todas as quebras de coração futuras
ecoem esta verdade entre o silêncio:
Eu teria
te amado
completamente.