Canto ao Verbo
No inicio, havia o verbo
Não “ser” ou “estar”,
Muito cedo pra isso.
Havia somente “existir”
“O que é o vazio?”
Pensava sozinho o pobre verbo
Infinitamente infinitivo
Não havia nada que o conjugasse
“Eu quero ser, eu quero estar”
Exclamava, sem saber como começar
Mal sabia ele que só de pensar
O universo estava a nascer
Muitos seres e muitos estares
De todas as cores e formas
Se aglutinam no mínimo espaço
Para sua primeira conjugação
Tudo é, e tudo está
Num instante, se expande
Trazendo sua existência
Para cada canto inexistente
“Eu sou, eu estou”, afirma
“Mas sou o que?” reflete
Em sua verbosidade de sujeito
Esquecera-se de criar o objeto
E como bom verbo, agiu
E tal ação trouxe consigo
Cada nome e pronome celestial
Para o mundo da existência.
Faltava algo. Faltava conexão
Por isso, inventou a preposição
E aproveitou, por precaução
Pra criar também a conjunção.
“Mas falta algo!” Grita com indignação
“Arre!” exclama, em vão
Sem perceber que com sua breve ação
Trazia pro universo a interjeição.
“Quantas palavras inventei no final?”
Mas não podia conta-las certeza
Afinal, não havia o numeral
Para dar ao cálculo a firmeza
Em sua distração total
Nem percebeu quando a rima inventara
Seria apenas um acidente lexical?
Em sua distração, o universo dispara
E tudo se organiza em si mesmo
Em concordância nominal
Uns regem os outros a esmo
Mas são todos palavras no final
E com seus conectores formou orações
De seu conhecimento, vieram lições
Com sua frase, seu estrofe, sua poesia
Escreveu o universo em um dia
Queria ter tempo para descansar
Mas verbo, descanso não tem
Pro verbo só existe o trabalhar
Mas o verbo tem vontades também
Vontade de amar, de chorar
Gritar, andar, falar, abraçar
Mas se contém, o verbo falho
Ele tem que cumprir seu trabalho
Observa o mundo de perto
Sempre seguindo o que acha certo
Pois verbo não tem vontade
Mas tem responsabilidade
Se veste com seu adverbio
Bota seu artigo mais bonito
E se mantem sempre como verbo
Daqui, agora, até o infinito.