Eu queria que o mundo parasse,
um instante que fosse,
um momento, único, grandioso,
extraordinário, profundo...
Um momento de parar tudo...
Intenso, dolorido, pungente...
sofrido pela ausência de som,
de movimento, de cor, de luz....
um instante que tudo ficasse estático...
um tempo de silêncio profundo
que antecede a tempestade,
que antecede a explosão do vulcão...
o silêncio do olho do furacão...
tudo se move ao redor,
tudo gira vertiginosamente...
mas lá dentro, no âmago...
o silêncio profundo, estático...
surdo... mudo...
articulado com o seu próprio eu...
Eu queria que o mundo parasse assim...
que tudo fosse girando mais lento... parando....
até o tempo se tornar estático
dentro e fora de mim...
o corpo, a mente, a alma...
um silêncio... um instante....
sem voz... sem lágrima...
um silêncio sagrado, transcendental...
insuportável aos olhos e ouvidos do mundo...
Eu queria que o mundo parasse
e eu pudesse ficar tão quieta, tão calada...
só... bem só...
só olhando... sentindo... absorvendo...
a gênese do mundo,
o início do Tudo,
a grandeza do Nada,
a preciosidade de lugar nenhum...
sentindo... só sentindo....
a sublimidade do instante,
a solidão total de ser...
a nudez interior...
o eco de minha própria lágrima
escorrendo pela face estática, fria...
no instante em que o mundo parasse...
e o sol se fixasse no céu,
virasse lua... e a lua virasse sol
e os dois se fundissem
num eclipse eterno de luzes e cores....
no momento em que o mundo parasse... em mim...
e o som da vida silenciasse
e o bater do coração se calasse
- profundo, magnânimo -
e fizesse a pausa do tempo...
aquele instante de silêncio puro,
em que tudo silencia e nada mais se ouve ou é...
Eu queria que mundo parasse...
Assim como se calou para mim a nova
a música da minha vida que não ouço mais...
Que o mundo pare... pare de girar...
e se faça aquele momento...
em que a orquestra da vida se cala
como se cala para mim a melodia da vida
o instante em que o maestro paira a mão no ar...
e todos param...
silêncio... silêncio...
não respira...
ninguém respira... ninguém pisca...
o mundo parou...
e se calaram os sons do universo...
e calou o silêncio em mim...
calou fundo... dói...
em mim o mundo parou...
aqui... em lugar nenhum...
perdida atrás da mortalha
entre a agulha e a palha
onde o sol não me encontra
não vê saídas
nem rezas a fazer acha que valha
onde nem na morte há volta...
há um silêncio profundo
de mundo girando... calado...
e a mão que o recebe
pede silêncio... fecha a porta...
porque o mundo parou...
enquanto lá no palco da vida
onde mora o sol
a música continua tocando...
a orquestra não se cala...
as notas na partitura
e a mão do maestro
só pedem a pausa necessária
à continuidade da música da vida...