DÁ CÁ DA AMÉRICA
Aonde está a terra inconformada
dos poetas loucos estradeiros,
dos músicos negros do batuque espiritual,
do povo dicavalcântico da favela,
dos revolucionários e dos anarquistas declarados?
Embaixo das botas das coca-colas militares,
multinacionais no toma lá
e provincianas no dá cá da américa profunda
como um esconderijo de piratas
onde cada estrela é uma caveira de anjo caído
Aonde estão os vagabundos rolando os dados
das trapaças que fizeram do samba
a ópera do oprimido? Nosso tempo
é da bajulação e do escarro, dos mastercardóides
alisando o número como o sexo d'um deus profano
O amor livre é procurado como bandido
expulso das ruas pela igreja dos pornólatras,
a única ousadia é cheirar a doçura
que o luar espalha nos lagos,
cientificamente exatos na frente do céu
que espelha nossas faces sem olhos
Aonde a lenda persiste há verdade,
o cavalo da morte visto dos palácios fumegantes
é um garanhão sedento, abertas as portas do espírito:
é um pangaré sem dentes,
resta pisar na lama deixando pegadas no corredor de marfim
o que atesta a idoneidade do malandro
é diferenciar o cheiro da canabis do perfume de alecrim,
porque nenhum jeans é mais tão velho
que possa disfarçar a paixão que há em mim
puxando do peito uma canção ouvida na alma dos viajantes
chegados de muitos países mas que sabem: América é o coração das estradas
América é saber-se aqui