Balada Silenciosa
Tão Zé, seguindo ser nada.
Silêncio percurso de incomunicabilidade.
O silêncio de tanto resguardado emerge sobre cabeças:
nossas cabeças fadadas a impossibilidade de dizer o óbvio.
O grito é imoral e somos decentes, parece.
Sempre há alívios cômicos: falamos sobre nós, em pequenas multidões,
de dois ou três ou quatro
(umas poucos permanecidos);
entre fumaça espessa e palavra fáceis: dizemos de nós: o banal,
efêmeras conversas
– não por torpor ou euforia crônicas –
Notamo-nos tão calados.
Nossos caminhos dispersos,
o som titilante do não dito, do habitual: calar-se
Contraindo-se até a carne atingir os ossos,
de você, eu, as pessoas, as gentes.
Sim, tendência humana, de certo modo.
Adestraram-nos a respirar,
conter-se,
fechar-se a tudo,
porta, janela.
Não esperar.
(E há os que se pegam às míticas de que alguém aí,
com aparentes tendências pouco prováveis, vai abrir janelas...
esperanças frágeis, conserváveis – servem para eles, esses outros).
Há nós: silêncios,
não por amor de menos,
pura hábito,
puro medo.
A palavra perdeu o sentido, em nós,
sua exatidão é mensurável.
Dentro de nós: paisagens
e vazio.
Simulacro.
O silêncio apagará nossos corpos,
as estrelas se acenderão.
Uma dúvida: restará memórias?