COMO QUISERA
Quisera ter você por um rastro, um encanto, um engano
Sentir teu gosto, acolher teu cheiro, cortejar teu olhar
Fugir num cuspe avesso e perdido de mim
Mas se dissipou de vez feito desejo bizarro.
Quisera poder surrupiar tua alma, vasculhar cada fresta do teu querer-bem
Aguçar teu paladar feroz, tuas ancas já vencidas pelo tempo
Dissecar cada pétala do teu medo, dos teus senões, do teu o-que-for
Mas escapuliu sorrateira sem ficar pegada, nem porém.
Quisera poder borrifar tua saudade com gotas abruptas de fé
Envaidecer teus peitos nas asas afoitas da alforria
Aporrinhar a têmpora coalhada de uma quimera qualquer
Mas dissipou antes de Deus dizer que teu chão estava cumprido.
Quisera poder desmantelar teus sonhos, tuas maldições
Respingar teu desejo com suor rampeiro, alvissareiro
Desmantelar tua crina puída e avessa
Mas morreu furtiva num solavanco qualquer.