O corvo
O corvo
Ó corvo das plumas vadias que me rodeias
Não venhas com o azar das bruxarias feiticeiras
Tu sabes que não me arrepias com as tuas sombras negras
Nem com os gritos arranhados das vozes que entregas
Não tenho medo da tua maldade nem presságio
Dessa cor enlutada que é teu apanágio
Um breu manchado num voo agoirento
Suspenso no céu pelas asas ao vento
Eu até gosto desse teu preto azedume
Que me veste o corpo nu com a plumagem do queixume
Trazes também a aragem em turbulência do mau olhado
Numa irreverência e atrevimento de quem pousa cansado
Mas diz ao meu ouvido agora quem te enviou enfim
Eu que tenho nariz empinado e sou senhora de mim
Luísa Rafael
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Porto, Portugal