Intimidade.*

Desequilibro o ar quando penso,

Corto o vento quando paro,

Nos meus pés os passos voam

Nesse tempo ingrato padrasto.

Tiro a roupa, desnudo a imagem,

Sentencio amores ao esquecimento, (?)

Atiro flechas ao silêncio (escuro perigo)

Faço festa com a porta aberta.

E entre o oculto e o dito,

Digo palavras em simples momentos,

Nessa cuia que balançam poetas

Como para a cego escolher um segmento.

Planto um sonho em semente de mostarda,

Rasgo um trecho de muitos papéis,

É a vida quem retarda

A boca que a noite não cala.

Subo morros, das ladeiras desço o desejo,

Fome, comida íntima, suave tendência,

De ser poema triste ou alegre, doença de sexta,

Nas frases que invento a contratempo.

Deixo do sabor o gosto de palavra,

Frenética, viva e quente, ainda demente,

Construção que não interessa nesse verso,

Se o universo do teu peito é o que quero efusiva.

Eliane Alcântara
Enviado por Eliane Alcântara em 25/03/2005
Código do texto: T7775