cotidiano
As bocas desdentadas
Sem dentes as bocas
Sorriem
O vazio opaco da boca sem dentes
Nada diz
Que preencha o opaco vazio
Tudo silêncio
Tudo mistério
O homem caminha
Sem rumo, sem destino
Caminha
Pra onde?
Pergunta o incrédulo ateu filósofo
Que não sacia sua sede porque a água que falta
Nem a chuva enche o açude seco
O lugar preferencial
No transporte público
Está ocupado
E o velho viaja de pé
Enquanto
No banco preferencial
O jovem espinhento
Ouve
Sabe-se lá o quê
Num fone de ouvido enterrado nos ouvidos
O trem apita o fechamento das portas
Alguém segura as portas
O velho continua de pé
O jovem espinhento
Ainda ouve
Sabe-se lá o quê