A Poesia Maldita
Oito horas de pé, corpo e mente cansados,
Nas tardes que se passam: cobranças no trabalho.
Ao redor selfies, violência, miséria, burrice coletiva,
O mundo é um luar de entediadas mandíbulas a discursarem.
Um planeta acinzentado que não anima os homens.
Nessa pesada realidade, nesse chope sem espuma,
Nesse perfume que não adoça os corpos,
A poesia deve incomodar, nada de suave romantismo.
Seus versos devem guilhotinar os afortunados,
Suas rimas alardear sobre a pobreza que avoluma.
A poesia é plurissignificativa de metamorfoses,
Mendigo a caminhar nas ruas dos sentimentos,
Uma defecadora na boca dos hipócritas.
O versejar não pode ser bobamente feliz,
Descrever jocosamente o amor, ser mero entretenimento.
A poesia deve jorrar sangue, desnudar mundos,
Ser jab bem dado para ferir e remontar o cérebro...
Elegia que expõe vértebras e estômagos.
A poesia tange seus pés junto
A tudo que é desconfortável e agressivo.
Ela cospe sobre o descartável,
Esfaqueia os que buscam a felicidade
Pela satisfação de necessidades econômicas.
A poesia tritura os ossos do imediatismo,
Dá pontapés na superficialidade,
Oferece sentido ao mundo à nossa volta.
Ela grita nossos dilemas,
Busca novas possibilidades.
A poesia é a trova dos críticos,
Uma bastarda entre os deuses do Olimpo...
As flores do mal plantadas por Baudelaire,
Poe, Augusto, Ginsberg, Kerouac e Gregório.
A poesia beija o peito sofredor.
A poesia deve ser maldita!