Segredo
Sozinha, cavei os alicerces
Sem ajuda, ergui as paredes
Trancafiei-me no mausoléu
Misturei-me aos vermes
Mesmo não sendo um deles
Cambaleei entre inferno e céu
À procura dos meus rastros
Segui meus próprios passos
E descobri passagens ocultas
Um submundo de cavernas e grutas
Mas também de águas cristalinas
Não havia apenas ruínas
Por mais que houvesse pântanos,
Escuridão e lamaçais,
Também havia rouxinóis e sabiás
Beija-flores, bem-te-vis
Havia girassóis e crisântemos
Jasmins, rosas e flores-de-lis
Mas para chegar ao jardim
Foi preciso atravessar
Todos os caminhos em mim
E chorar, padecer e sangrar
Rasguei minhas carnes
Com as próprias unhas
Até alcançar as vísceras
Eram tantas as partes
Eu era ré, vítima e testemunha
Mesmo as provas sendo míseras
Realizou-se o julgamento
Fui o juiz e dei a sentença
Fui o carrasco e executei a pena
Aceitei o castigo sem medo
O único aliado era o tempo
Deixá-lo passar era o segredo...