Segredo

Sozinha, cavei os alicerces

Sem ajuda, ergui as paredes

Trancafiei-me no mausoléu

Misturei-me aos vermes

Mesmo não sendo um deles

Cambaleei entre inferno e céu

À procura dos meus rastros

Segui meus próprios passos

E descobri passagens ocultas

Um submundo de cavernas e grutas

Mas também de águas cristalinas

Não havia apenas ruínas

Por mais que houvesse pântanos,

Escuridão e lamaçais,

Também havia rouxinóis e sabiás

Beija-flores, bem-te-vis

Havia girassóis e crisântemos

Jasmins, rosas e flores-de-lis

Mas para chegar ao jardim

Foi preciso atravessar

Todos os caminhos em mim

E chorar, padecer e sangrar

Rasguei minhas carnes

Com as próprias unhas

Até alcançar as vísceras

Eram tantas as partes

Eu era ré, vítima e testemunha

Mesmo as provas sendo míseras

Realizou-se o julgamento

Fui o juiz e dei a sentença

Fui o carrasco e executei a pena

Aceitei o castigo sem medo

O único aliado era o tempo

Deixá-lo passar era o segredo...

Ane Rose
Enviado por Ane Rose em 20/04/2023
Reeditado em 20/04/2023
Código do texto: T7768561
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