Tens razão, meu caro,
não posso fugir dos sentimentos.
Não posso fingir que nada sei, que nada sinto.
Provo agora o gosto amargo do vinho.
Engulo as poesias de amor, que é tão difícil
de digerir. Respiro as mágoas, inspiro as mentiras.
Encaro o retrato real da ilusão…
Me inspiro numa frase qualquer que leio por aí,
Rabisco verso sem nexo, talvez, assim,
o riso tenha sentido, o amor vire lixo!
Tens razão, meu caro.
Preciso cantar a tristeza, chorar os dias perdidos…
Vomitar o amor nunca sentido!
Preciso desfazer da minha fama de durona,
Ao menos quando eu estiver no quarto escuro
ouvindo Live Again.
Assim, quando eu menos perceber
O coração estará vazio de sentimentos tristes,
As lagrimas não encherão mais o meu copo
e – aquele sentimento lindo, ainda vivo,
Será desnutrido, esquecido.
E poderei VIVER DE NOVO.
Ah, tens toda razão, meu caro Drummond:
"o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que corre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã."
— Carlos Drunmmond
— Flor Morenna
28/07/2022