Ferrovia
Se precisamos viver/
O que temos de comer/
Se precisamos viver/
O que temos de beber/
O natural seria essencial/
Pois tudo nos foi dado de graça/
Mas sem alforria/
Sem o teor adequado a ideologia/
Aceito o que me é permitido/
Em nome de uma lei geral/
Que no abissal desse oceano/
De tantos seres humanos/
Até aqui só alimenta o mal/
Somos forjados a qualquer coisa/
Que não pertube o capital/
Se querem drogas/
Deem a eles/
Se querem brinquedos eletrônicos/
Que assim seja/
Deem a eles do bolo, a cereja/
Se querem sexo livre/
Liberem/
Se querem baderna/
Que as leis não se asseverem/
O importante é o caos/
E que nunca venham a mesa/
Mudar o sistema/
Deixem solto os bichos/
Para ter o controle/
A cidade é dos atores/
A escuridão é dos lobos/
As casas, estádios, circos, pontes e ruas dos bobos/
Coca cola para todos/
Enquanto os filhos seguem cegos/
Massageia-se seus egos/
Para tudo funcionar /
Como um bem estar/
Sem ninguém perceber o perigo/
Que há no ar/
Nesse mundo terreno/
Venda a alma/
Pra ter o seu lugar/
Tudo por um milhão/
Por uma vitrine/
Sem o som do violão/
Se preciso viver onde devo morar/
Sem um livro/
Sem uma Internet/
Sem um programa de televisão/
Pra me controlar/
Desde que um país torna-se um país/
Quem respeita a nação/
Quem cuida do povo/
Ainda amontoado de subservientes/
Querendo ser gente/
Se nascer é viver/
Porque ousar impor grilhões/
Nas entranhas do grito/
De um corpo maldito/
Dos que ousaram libertar a Democracia/
Do julgo da ditadura/
A luz dos vários ritos/
Somos capazes de identificar/
Aqueles que nos matam/
Mas por nossa palidez/
Por nossa consciência atrofiada/
Nossa ignorância calada/
Nem sabemos o que fazer/
Pensava que já bastaria sofrer/
Com as agruras da miséria/
Com a dor da injustiça/
Com o castigo da fome/
No mundo da fúria/
A luz da ambição, do egoísmo e da luxúria/
Nunca é o bastante/
Quando se estar ferido/
Quando se está sangrado/
Quando se está morrendo/
A insanidade é a merecida postura/
Nos dias de hoje/
Não espere ruptura/
Esse padrão/
De Reis e ilusão/
Seguirá a frente do dia a dia/
Se quiseres viver/
Não te apegues ao querer ser/
Além da essência/
Não precisa ciência/
Basta quando abrirem as portas/
Se ainda tiveres a chance/
Acenda os olhos/
Abra os braços e ame/
Sem esperar pelo amanhecer/