INSTANTE
Há um instante especial,
no fim do tempo dos outros.
É o meu tempo !
Quando me resumo ao que sou,
sem encenações de nenhum tipo,
nem vontades de agradar.
Quando, simplesmente,
o mundo me recepciona
com as cores que reservou para mim.
As cores a que já me habituei,
como aquelas cortinas antigas
na janela de onde olho o mundo
habitualmente.
É o meu tempo !
Reservado a um ritual já antigo,
no qual procuro dar-me tanto
quanto, de mim, dou aos outros,
nessas horas agitadas
que lhes dedico.
É quando me dou
as delícias do silêncio.
A riqueza dos parágrafos
cuidadosamente escolhidos.
Os gestos fáceis
do que me apetece,
sem delongas,
eficientemente.
É o meu tempo !
Nele forjo, em detalhes e minúcias,
as estratégias com que enfrento,
quotidianamente,
as armas afiadas das regras,
e das imposições.
Nele me treino para ser quem sou.
Nele me ergo,
do que sobra de mim...
Dezembro 2007