NAQUELES TEMPOS

Naqueles tempos

havia tempo de verdade

e os momentos eram alongados

como se fossem duráveis

Naqueles tempos

os dias eram claros e escuros

pelas manhãs ensolaradas

os homens repetiam suas atividades

e quando a luz das estrelas chegava

eles voltavam aos lares para jantar

e ler os jornais impressos no final das tardes

Naqueles tempos

a pressa era inimiga da perfeição

enquanto hoje se quer ser perfeito

antes do alvorecer das madrugadas

Naqueles tempos

em que os relógios tinham ponteiros

os segundos faziam tic-tac

as horas imitavam o som dos pássaros

e a gente dormia sem ar-condicionado

Naqueles tempos

as asas dos aviões tinham hélice

o fusca novo vinha com 1300 cilindraras

e as novelas eram em branco e preto

aprisionadas em televisões entubadas

cuja maioria nem chegava a 20 polegadas

Naqueles tempos

se pulava corda

se jogava queimado

pega-pega e bolinha de gude

e se empinava pipa

como se quiséssemos pescar

os anjos que se escondiam

por detrás das nuvens adocicadas

Naqueles tempos

tudo era tão demorado

que o tempo parecia imutável

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 18/04/2023
Reeditado em 19/04/2023
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