NAQUELES TEMPOS
Naqueles tempos
havia tempo de verdade
e os momentos eram alongados
como se fossem duráveis
Naqueles tempos
os dias eram claros e escuros
pelas manhãs ensolaradas
os homens repetiam suas atividades
e quando a luz das estrelas chegava
eles voltavam aos lares para jantar
e ler os jornais impressos no final das tardes
Naqueles tempos
a pressa era inimiga da perfeição
enquanto hoje se quer ser perfeito
antes do alvorecer das madrugadas
Naqueles tempos
em que os relógios tinham ponteiros
os segundos faziam tic-tac
as horas imitavam o som dos pássaros
e a gente dormia sem ar-condicionado
Naqueles tempos
as asas dos aviões tinham hélice
o fusca novo vinha com 1300 cilindraras
e as novelas eram em branco e preto
aprisionadas em televisões entubadas
cuja maioria nem chegava a 20 polegadas
Naqueles tempos
se pulava corda
se jogava queimado
pega-pega e bolinha de gude
e se empinava pipa
como se quiséssemos pescar
os anjos que se escondiam
por detrás das nuvens adocicadas
Naqueles tempos
tudo era tão demorado
que o tempo parecia imutável