Ser outro
Certo dia, levantei-me disposto a despir-me
de tudo o que absorvera do meu entorno,
daquilo que repetia achando-o servir-me;
colagem de vivência alheia, um transtorno.
Havia entupido um armário mental de frases
que profetizavam o modo certo para se viver:
eram lindas, de efeito; adotara-as por bases,
sabendo-as alheias de mim, do meu ser.
Andava farto de ser quem não era,
de viver a vida que não escolhera,
de achar graça por mera educação,
de tanto titubear sem mostrar ação.
Minha mente portava meu mundo real;
o que tomava por real, era tudo ilusão.
Autoengano era-me conveniente e letal,
até ficar insuportável como dor de paixão.
Quero ser outro: o meu eu verdadeiro!