Resposta ao Abismo

Grito pro abismo, e de tanto encará-lo

O abismo me vê, abismado pela ousadia

Com seu silencio mortal e eterno

Me responde com um eco meu clamor

Sem perceber entoava seus versos

Para mera poça d’agua da qual seus olhos não desvia.

E depois de tanto silencio

Um eterno debate de frequência nula

É de se esperar que um gesto

Um mero cumprimentar, um olhar

Um pedido para esses braços a tanto estendidos

Seja respondido com o mesmo eterno silêncio.

Tantas vezes me projetei no abismo

Que é irônico o abismo se projetar em mim

É uma honra, e agradeço a cortesia

Mas já não me espanto com leitura fria

Me interessam os pequenos fragmentos humanos

Que não cabem numa caixinha rotulada

Palavras vazias que escuto do espelho todo dia

Não respondem perguntas complexas

Como observar as ondas da superfície

Nada revela sobre o fundo do oceano

Sobre aquela fagulha há muito esquecida

Que faz de todos nós humanos

Chega de especulação! De projeção!

Desse cálculo infinito que nos cega

Para as partes mais belas dos seres.

Não me interessa teu personagem caricato

O pouco que entendo de sua mente

Me deixa mais curioso para conhecer sua alma

Então, meu caro abismo

Com sua eterna sabedoria e retórica

Que não precisa de mascaras ou palco

Nem drama, nem cena, nem roteiro

Me responda, com sinceridade:

Quem é você de verdade?

Ariel Alves
Enviado por Ariel Alves em 16/04/2023
Reeditado em 16/04/2023
Código do texto: T7765499
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