Resposta ao Abismo
Grito pro abismo, e de tanto encará-lo
O abismo me vê, abismado pela ousadia
Com seu silencio mortal e eterno
Me responde com um eco meu clamor
Sem perceber entoava seus versos
Para mera poça d’agua da qual seus olhos não desvia.
E depois de tanto silencio
Um eterno debate de frequência nula
É de se esperar que um gesto
Um mero cumprimentar, um olhar
Um pedido para esses braços a tanto estendidos
Seja respondido com o mesmo eterno silêncio.
Tantas vezes me projetei no abismo
Que é irônico o abismo se projetar em mim
É uma honra, e agradeço a cortesia
Mas já não me espanto com leitura fria
Me interessam os pequenos fragmentos humanos
Que não cabem numa caixinha rotulada
Palavras vazias que escuto do espelho todo dia
Não respondem perguntas complexas
Como observar as ondas da superfície
Nada revela sobre o fundo do oceano
Sobre aquela fagulha há muito esquecida
Que faz de todos nós humanos
Chega de especulação! De projeção!
Desse cálculo infinito que nos cega
Para as partes mais belas dos seres.
Não me interessa teu personagem caricato
O pouco que entendo de sua mente
Me deixa mais curioso para conhecer sua alma
Então, meu caro abismo
Com sua eterna sabedoria e retórica
Que não precisa de mascaras ou palco
Nem drama, nem cena, nem roteiro
Me responda, com sinceridade:
Quem é você de verdade?