DAS MINHAS RAÍZES
Tenho raízes aguerridas, soberbas, de casca dura, arrebatadoras, famintas. Elas não se calam quando acalmam meu chão, quando instigam a minha alma, quando acarinham minhas rebarbas. Se sobrepõem ao tempo, ao medo, à inquietude. Têm gosto sábio, andar solene, nunca debandam nem deságuam no vazio. Também nunca negam sua lida, seu contrapeso, sua sombra. Hoje as levo sem mágoa, libertamente cativas, lindamente pousadas nos meus dias, fincadas em mim com delicada cantoria. São raízes que já foram atrozes, cruéis, avessas ao meu querer-bem. Mas hoje se fazem perfumadas, de crina solta, de eco feliz. São amigas, fiéis e abençoadamente perdoadas, abençoadamente queridas.