Grão
De implosão em implosão,
Meu peito de aço ruiu
Explodiu... simplesmente explodiu
Foram muitas as pancadas
Apunhalando o coração
E hoje estou devastada
Não poderia resistir para sempre
A represa estourou
E as lágrimas guardadas
Jorraram, desaguaram
Num rio que não tem fim
O que restou?
Caí e me reergui tantas vezes
Que não me dei conta
De minha fragilidade
Escondida atrás da fortaleza
Para onde foram as certezas?
A dúvida é uma afronta
Que põe em risco a sanidade
Pensei que era muralha
Mas sou apenas grão
Uma imensidão de palha
Que o fogo consumiu
Deixando rastros pelo chão
Hoje não sei quem sou
Nem mesmo o que busco
Tudo é tão vazio
Que não há como preencher
O mundo cruel, rude, brusco
Como não perecer?
As palavras se perdem no vento
As imagens se dissipam no ar
Mil emoções, nenhum pensamento
Resta fechar os olhos e dormir
E, ao acordar? Enfrentar ou fugir?
São tantas vozes sussurrando,
Pedindo , implorando, gritando...
Não sei de onde elas vêm
Do mundo ao redor?
Ou de dentro de mim?
É o começo? Ou o fim?
Sinto fome, não tenho apetite
Sinto-me presa, sendo livre
Quero gritar, mas não tenho forças
Quero ficar em silêncio
Mas as vozes não calam...