Encontro

Encontrei dona Maria

Assim tão esternecida

Não chorava, não sorria

Quanta chuva a cada dia!

Morte, noite, triste sina

Era só o que lhe cabia

Na maloca, crack havia

E na rua, o fim da vida.

É o chumbinho, minha filha

Que me espera ali na esquina

Se eu sair, tou tão vazia!

Não o sol mais brilharia.

Tens alguém? Um filho, ou tia?

Alguém quem em tu confias

Que te espera, acolhe e fia

cada teu fio solto, e alinha?

Quem irá a mim querer,

Uma velha tão sofrida?

Se há uns dias, impassíveis

Me negaram acolhida?

Mas veja só, dona menina

'inda assim tão desquerida

Tenho aqui, neste recado

O contato da minha filha.

Que mais queres, ó Maria?

Branca pílula de magia?

Um leito de enfermaria?

Ou um prato de comida?

Sabes mesmo, menininha

O que eu quero, és tão sabida

É só um canto que me aninha

E uma quente cobertinha.

Nicolle Ramponi
Enviado por Nicolle Ramponi em 10/04/2023
Código do texto: T7760051
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